Relato 69

 ''Começou com ele, logo nos primeiros dates, quando eu falei que sou monogâmica e que buscava alguém monogâmico também, me dizendo que jamais esquecia nada, então, que não queria saber de nada a respeito da minha vida antes de conhecê-lo. Ele nunca falou nada da vida particular, nada além do “coisas horríveis aconteceram comigo”, mas que tinha tido alta da analista. Um dia, não sei como, ele descobriu que o cara numa família de amigos era meu ex. Se descontrolou e veio discutir, julgando o nome da pessoa como algo por si depreciativo, e que quando eu chegava de almoços com meus grupos (ele era convidado mas nunca quis ir), eu exalava odores pela boca que o faziam ter certeza que eu tinha feito sexo oral. Ele dizia que tinha tido alta da terapia. Um dia, descobri que ele estava sob programa de atenção terapêutico-psicológico intenso e ele que parou de ir. Quando conversávamos, ele falava sobre o dia, e quando eu começava a contar do meu dia, ele dizia que precisava descansar/trabalhar/que tinha algo para me mostrar. Se era ao telefone, quando era minha vez de dizer algo, ele dizia que a ligação estava ruim e que ia desligar. Ele levava muitas horas para responder mensagens, se eu telefonava ele nunca atendia. Dizia que o telefone estava quebrado, e não tocava. 

 Mas ele dizia que me amava e me chamou pra morar com ele. Fui. Descobri que ele bebia todas as noites. Antes era em casa, mas quando expliquei que não conversaríamos quando ele tivesse bebido, ele passou a beber antes de entrar em casa. Ele passou a dizer que não tinha mais tesão, mas se eu o procurasse para sexo, mesmo tendo ereção, ele me afastava. Então ele me dizia que não queria, que eu não me valorizava, que eu estava gorda e estávamos sem dinheiro, e por isso ele não tinha cabeça pra fazer sexo. Ele deixava um som ligado em rádio 24h em casa. Baixo, mas não havia silencio. Ele também dormia com computador ligado, rolando intermináveis vídeos.  Dizia que precisava disso para dormir. Eu expliquei que eu não conseguia dormir com aquele barulho, propus fones de ouvido, até que ele um dia disse “vá para o outro quarto”.

 Eu trabalho de casa, então comecei a dormir mesmo quando ele saia para trabalhar pela manhã. Eu arrumava a casa sozinha, descansava nas horas que ele não estava, trabalhava até ele chegar - ele sentava na sala e aumentava o som do computador dele, eu não conseguia produzir. E um belo dia ele perguntou “o que você faz o dia inteiro? Você diz que trabalha mas nunca tem dinheiro!” Até que na festa de aniversário dele, em casa, após eu ter concluído minha mudança para a casa dele, descobri que ele não falou pros amigos que estávamos morando juntos, uma ex apareceu - convidada por ele - e ele não falou nada pra nenhuma de nós duas. Ele deu um jeito de interferir na minha profissão, as piores escolhas profissionais feitas são daquela época. Eu estava saindo de férias. Fui ficar com uns parentes, e na volta, ao querer falar sobre os assuntos, ele reclamou do meu peso, veio dizer que eu deveria me depilar com mais frequência, e quando viu que eu trazia o assunto de volta ao que eu queria falar, me chamou de abusadora “porque minha microexpressao facial dizia que eu senti ódio ao perguntar sobre meu ex , e ele temia que eu o agredisse, então, falou que esperava que, se ele pedisse, eu saísse da casa”. Eu falei que sairia naquela noite, e ele foi dormir, como se nada tivesse acontecido.

 Empacotei tudo, telefonei pra minha família, foram me buscar. Ele passou um mês e meio agindo como se ainda namorássemos,  até que eu disse que não queria mais estar com ele (a questão da saída programada para não sofrer violência). 18 meses depois, eu ainda estou com a autoestima sendo reconstruída. Mas ele nunca me bateu.

 Tudo isso aconteceu num período de 18 meses de relacionamento. Eu estou trabalhando o auto perdão. Foi tudo muito intenso e muito rápido. Com o agravante de gente à minha volta dizendo “eu avisei” e querendo entrar na minha vida e dizer o que e como eu deveria agir. Ou seja, além do problema do relacionamento, me vi tendo que cortar pessoas igualmente abusivas e imensamente invasivas, que eu talvez não tivesse percebido se não tivesse amadurecido com o namorado abusivo. Mas não importa.''

- Seguidora anônima, @maselenuncamebateu





Olá, querida leitora, 

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