Relato 58

 ''Sempre ouvi dizer que a mulher livre e independente incomoda a nossa sociedade - machista. Porém isso nunca me impediu de ser uma mulher forte e destemida.

Dentre inúmeros ocorridos que já vi relacionados ao machismo, sempre me comovi com a dor de cada mulher que sofria e sofre carregando marcas de algo tão bárbaro, que sempre foi e ainda é tratado com tanto descaso. Sempre admirei a coragem e força de cada uma das guerreiras que tem suportado situações do gênero há anos, sempre se reinventando e buscando a libertação deste mal. Porém nunca tive noção do peso que é lidar diretamente com isto, até que chegou a minha vez...

Em 2018 eu me relacionava com um cara super machista em pele de homem desconstruido. De início ele não deixava vestígio algum, até me "apoiava" e fingia admirar minha postura. Com o passar do tempo, quando já tínhamos mais intimidade e convívio ele se transformou numa pessoa que nunca imaginei que pudesse se tornar ou SER DE FATO.

Tudo começou com pequenas discussões, onde ele passou a demonstrar que era extremamente possessivo e ciumento. Sempre dizendo que eu tinha que ser submissa e acatar tudo que ele dizia. Após o calor das brigas ele sempre chorava pedindo desculpa alegando que eu era mulher demais para ele e que ele não sabia como lidar com "Tudo isso", por isso se descontrolava e agia de forma agressiva.

As discussões eram cada vez mais intensas. Foram 9 meses de brigas quase que diárias. Dois extremos, machismo puro contra a resistência do feminismo. Eu sabia que não deveria me manter nessa relação, porém sempre que eu tentava terminar ele me ameaçava, falava que iria me matar, que iria acabar com a minha vida, que iria expor em redes sociais fotos minhas de momentos íntimos, que ele tirou sem que eu soubesse. Eu tentei, por diversas vezes, mas não é fácil sair de um relacionamento abusivo. Mesmo sendo feminista e tendo consciência de tudo que acontece por conta do machismo me via presa numa situação onde todas as minhas tentativas eram frustradas e minhas forças acabavam se esgotando.

Quando decidi colocar um ponto final na relação fui covardemente agredida, fiquei presa dentro da casa dele por horas, sem meu celular, sem ter como pedir ajuda. Foram horas de desespero e pavor. Só quem já passou por algo semelhante tem noção do quanto dói. 


Após a agressão sofri diversas ameaças, perseguições, tive até que sair do emprego pois ele conhecia os meus caminhos e horários, me seguia por onde quer que eu fosse. Tive que me isolar dentro de casa. Me tornei depressiva. Mesmo tendo medida protetiva ele vinha até minha casa para me ameaçar. Tentei de todas as formas afasta-lo sem ter maiores problemas, mas ele não aceitava que eu não queria mais nada com ele.

Tentava sobreviver em meio aos destroços causados pela relação e não conseguia sair do fundo do poço. Os meus dias pareciam não ter cor, não ter fim, a tristeza me consumia de forma brutal. Meu rosto ficou desfigurado, meu corpo todo marcado, meus dentes foram quebrados, minha alma estava abatida. Eu dormia e acordava com medo, não tinha segurança nem dentro da minha casa. Diante de tudo isso eu tentava assimilar tudo que me ocorreu, tentava me redescobrir como mulher, buscando reconstruir minhas emoções e buscando forças para me reerguer, quando num exame de rotina descobri que estou grávida e o bebê é dele.

Descobri a gestação no quinto mês. Para mim foi um choque, passei a me odiar por ter sido capaz de gerar uma vida com alguém que só me fez mal. Todo o trabalho que tive para ir me livrando do trauma foi em vão, a depressão voltou mais forte após a descoberta do bebê. Foi muito difícil processar que eu estou carregando em meu ventre um fruto de uma relação que quase me levou à morte. Pensei em tirar minha própria vida. Não via solução para os meus problemas.

Hoje, já estou com 7 meses de gestação e tenho tentado trabalhar tudo isso em minha mente.
Cada dia é um dia de luta interna, de descobertas e renascimento. Ao mesmo tempo que a gestação me faz relembrar de tudo de mal que aconteceu, busquei nela motivação para me fortalecer, me refazer como mulher e agora com força de mãe.
Mesmo sendo tão pequenininha e frágil, minha guerreirinha esteve comigo desde antes da agressão até o fim desta turbulência. Mesmo sem eu saber, minha pequena já estava ao meu lado lutando junto comigo por nossas vidas. Ela tem sido a minha inspiração e o motivo pelo qual acordo disposta a ser mais forte do que nunca.

Olhares preconceituosos - até mesmo de familiares, vivem a me reprovar. Como se eu tivesse escolhido passar por tudo isso... Como é difícil ser mulher!

Sei que ainda há muito para entender, aprender e progredir. Mas a minha fé num amanhã melhor é o que me mantém de pé diante das batalhas diárias e me faz acreditar cada vez mais que O FEMINISMO SALVA SIM! Empoderem-se!

Minha total solidariedade e apoio às centenas de mulheres que a cada dia passam por situações como essa. Muita força e luz. VOCE É CAPAZ!

P.s.: Não tenho mais notícias do dito cujo, não tenho nenhum tipo de contato e nem pretendo ter. Serei mãe solo... Mas isso não me importa, o que importa é que estou livre das amarras que um dia tanto me fizeram mal. A NOSSA LIBERDADE NÃO TEM PREÇO, MAS TEM MUITO VALOR! ''

- Seguidora anônima, @maselenuncamebateu
 
 
 
 
Olá, querida leitora,



Você percebeu que passa por situações parecidas no seu relacionamento com este relato? Você não está louca! Precisamos te dizer: agressão não é só física! Antes da agressão física, ou até mesmo de uma tentativa de feminicidio, vem as agressões psicológicas, morais, sexuais e patriomoniais! Não é apenas a existência de uma agressão física que configura um relacionamento abusivo e a violência doméstica. Procure ajuda! Amor não machuca nem dói, tampouco sobre posse. Estamos aqui para te dizer isso. Conte conosco, você pode entrar em contato em:



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